quinta-feira, 19 de abril de 2012

DROGAS

Consumo e venda de crack se espalham 

por Carmo da Mata

Vários pontos da cidade são utilizados para o uso do mal do século



Os prejuízos pessoais e sociais do consumo de crack são evidentes e estão cada vez mais presentes na realidade de pobres e ricos, de homens e de mulheres. Os usuários sabem, a sociedade tem noção dos danos e o poder público tem a responsabilidade de cuidar dos dependentes e de proteger os não usuários dessa droga que contamina a convivência em nosso município.
O fácil acesso e o consumo escancarado das pedras, em diversos endereços espalhados no centro e nos demais bairros de Carmo da Mata, representam as evidências de que a falta de enfrentamento ainda não mostrou resultados suficientes, nem por parte do Governo Federal e muito menos pelo Governo do Estado.
Na última semana, a reportagem da Tribuna do Carmo fez um levantamento de vários pontos de consumo de crack em nossa cidade, no centro e em outros bairros um pouco mais afastados. O objetivo da reportagem, que por ora se apresenta, é tentar entender a realidade desses usuários que constituem, hoje, um dos principais problemas de saúde pública desse país.
Nos últimos meses, Carmo da Mata vivenciou, e continua vivenciando, uma onda de pequenos furtos, a maioria deles praticados por usuários de crack.
No dia 23/03, Jorge Rodrigues Galassi, de 30 anos, foi preso por ser suspeito de cometer alguns furtos ocorridos em Carmo da Mata. Jorge possivelmente é um usuário dessa droga, e esses furtos podem ter sido realizados para que o mesmo pudesse manter o seu vício. Já no dia 1º/04, Getúlio do Nascimento Machado foi preso, acusado também de praticar vários furtos. Getúlio é conhecido na comunidade carmense por ser mais um dos tantos usuários que roubam para comprar o crack.
As drogas estão batendo nas portas das instituições de ensino. Um exemplo claro deste fato foi o comparecimento da Polícia Militar na Escola Estadual Joaquim Afonso Rodrigues, no dia 30/03, onde, segundo informações, foram encontrados três invólucros de uma substância de cor clara semelhante à cocaína, localizada no telhado de uma das salas da referida instituição de ensino.
Outro fato que mereceu destaque foi a prisão do jovem Adéliton Carlos de Moura, às 04 horas e 30 minutos do dia 10/04, em uma mercearia no bairro da Várzea. O autor foi encontrado com uma sacola plástica contento cinquenta e três maços de cigarro de marcas variadas, vinte e um isqueiros da marca Bic, três bonés e uma caixa de bombons, prontos para serem furtados. Também em poder do autor foi localizada uma faca sem cabo, de aproximadamente 16 cm. Adéliton confessou aos policiais militares que iria furtar as mercadorias para vendê-las e conseguir dinheiro para comprar drogas. Segundo o autor, ele estava praticando pequenos furtos em Divinópolis e trouxe de lá seis porções de crack para o seu uso.
O promotor de Justiça, Areslan Eustáquio Martins, em entrevista à Tribuna do Carmo, na tarde do dia 11/04, falou que uma das medidas necessárias para o combate às drogas seria a criação de um CAPs (Centro de Atenção Psicosocial). Ele disse ainda que acredita na necessidade de haver uma conscientização da sociedade. “É preciso haver uma conscientização da sociedade civil, alertando que a droga é um problema sério e que se houver uma união de todos com coerção e conscientização dos jovens, poderá, assim, haver uma melhoria desse problema.” Alertou ainda que o foco do problema esteja, provavelmente, direcionado para os jovens estudantes, envolvendo algumas instituições de ensino, e que o crack é um problema de saúde e de segurança pública”, disse o promotor de Justiça.
Segundo a nova secretária de saúde, Betânia da Penha Curto Jeunon, Carmo da Mata tem um programa de governo chamado DANTE (Doenças e Agravos não Transmissíveis), que está relacionados à hipertensão, diabetes, saúde da família, tabagismo e drogas. “Estamos trabalhando nas áreas citadas, mas ainda não temos um programa específico para drogas. Sabemos que esse assunto tem que ser bastante abordado em nossa cidade, já que se trata de um município pequeno e o acesso as drogas é bem fácil. Estamos estudando um meio de chegarmos aos nossos jovens de forma direta e precisa, através dos PSFs, com grupos operativos, palestras, oficinas e apoio dos nossos profissionais”, declarou Betânia.
Pontos
A equipe de reportagem da Tribuna do Carmo, através de uma minuciosa apuração, detectou vários locais de vendas de drogas. Motocicletas vêm e vão fazendo o transporte do produto, ou seja, o famoso “aviãozinho”, segundo a gíria dos usuários.  Os veículos circulam pelos bairros da Várzea e pela Cohabinha. Já no Alto dos Pinheiros, aparecem num local denominado como “mina”. No centro da cidade também se encontram pontos de vendas.
Muitos dos usuários de entorpecentes são vistos fazendo uso do produto até mesmo durante o dia, como no Açude, próximo ao Parque de Eventos da cidade. Outros locais também são usados com frequência pelos usuários, como uma árvore nas proximidades da Estação de Tratamento de Água, popularmente conhecida por “Caixa d’água”. Outros pontos também utilizados para o uso de drogas são: um próximo ao Poliesportivo, e outro nas proximidades da captação de água, perto do Rio Boa Vista e a linha férrea.
É do conhecimento geral quem são as pessoas que comercializam crack e outras drogas, onde são os pontos de venda livre, sem qualquer temor das autoridades competentes. Em 20/09 do ano passado, o prefeito municipal nomeou os membros do COMAD (Conselho Municipal Antidrogas), formado por vários segmentos da sociedade, como GRESGEL (Associação Carmense para Promoção Humana), SOS Amor (Sociedade de Orientação Social), Rotary Club de Carmo da Mata e o Conselho Tutelar. Segundo a administração, a nomeação desses conselhos representa um passo para o enfrentamento do problema.
Audiência Pública Regional discute o problema
O alto índice de consumo de drogas, em especial o crack, preocupa as autoridades públicas em todo o país. Para ouvir as entidades, clubes de serviço e autoridades públicas e repressivas que atuam sobre esse problema, foi realizada, na noite do dia 12/04, na Câmara Municipal de Divinópolis, a Audiência Pública Regional “Crack: É preciso vencer – Diretrizes das Políticas Nacionais e Estaduais Antidrogas”.
 Na oportunidade, foram relatadas experiências de trabalho de várias entidades que atuam no setor a nível federal, estadual e municipal e discutido o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas, do Governo Federal, que pretende investir, até 2014, um total de R$4 bilhões em diversas ações de políticas públicas integradas. Os investimentos serão feitos em diversos setores como saúde, educação, assistência social e segurança pública. De acordo com o Deputado Federal majoritário em Carmo da Mata, Jaime Martins, que articulou a realização da Audiência Pública “Crack: É preciso vencer – Diretrizes das Políticas Nacionais e Estaduais Antidrogas” é fundamental que as políticas sobre drogas possam ter o olhar de todos os segmentos da sociedade. “De forma específica, discutimos aqui o enfrentamento ao Crack e outros tipos de dependências químicas, passando pelos eixos do tratamento e acolhimento, reinserção social, repressão ao tráfico e legislação. Foi uma audiência importante porque, no nosso processo de elaboração de políticas públicas para o enfrentamento às drogas, conseguimos ouvir as autoridades locais, os parceiros e os profissionais que trabalham na linha de frente com esse problema. Por isso, essa Audiência Pública veio em um momento oportuno para todo o centro-oeste mineiro, uma vez que é preciso o fortalecimento das ações antidrogas em nossa região e isso inclui a microrregião de Oliveira, Cláudio, Carmo da Mata. Digo isso, porque a repressão às drogas parte também da repressão e monitoramente das nossas rodovias federais e essas cidades são próximas de polos importantes, os quais as rodovias BR381 e BR494 cortam. Nesse sentido, ficou-se aqui acordado a necessidade de um grande cinturão de apoio em que as policias civil, militar, rodoviária e federal atuem em parceria com os governos locais. Fico muito feliz de conseguirmos dar um passo importante para uma efetiva política regional de combate às drogas, em especial, o Crack, que tem sido um veneno que corrói inúmeras famílias da nossa sociedade ”, falou Jaiminho à nossa reportagem.
Segundo informações do programa do Governo Federal, "Crack, é possível vencer", não se sabe exatamente quantos são os usuários de crack no país. Estima-se que no Brasil haja centenas de milhares de usuários, principalmente adolescentes e adultos jovens. A maioria é das classes C e D e começa a usar a droga por volta dos 14 anos. Entre os estudantes do ensino médio nas maiores cidades do Brasil, cerca de 0,5% já usou crack ao menos uma vez. Pesquisas em andamento deverão, em curto prazo, indicar com maior precisão quantos e quais são os usuários de crack, bem como as condições de uso e de vida desses dependentes.
O tema é polêmico, mas não devemos paralisar diante de dúvidas. Toda iniciativa que se paute pelo respeito aos direitos individuais e pela proteção à vida deve ser defendida. Se quisermos combater o uso de drogas, precisamos compreender o grau de dependência química provocada no usuário e suas consequências. A solução passa não só pela repressão policial ou pelos bancos escolares e sim pela reestruturação das famílias.
Em relação ao tráfico, as medidas de combate devem ser enérgicas, combatidas e didáticas, mostrando aos traficantes que ao contrário do que eles pensam o crime não compensa. As autoridades municipais precisam se mobilizar para inibir a ação dos traficantes, pois a situação atual em nosso município representa um terreno fértil para o comércio de drogas.

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