quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Jürgen Broemmé: uma história inigualável

HOMENAGEM

Jürgen Broemmé: uma história inigualável



Em 22.10.1937, nasceu Jürgen Mäder, filho de Hans Karl Mäder e Ilse Irene Ella Mäder, em Swinemünde, na ilha de Usedom da Alemanha, onde seu pai trabalhava como físico/engenheiro químico em uma fábrica de foguetes espaciais. A ilha, localizada no Mar Báltico, ao norte da Alemanha, passou a pertencer à Polônia após a II Guerra Mundial. Mais tarde nasceram Renate e Friedrich (Fiddi), tendo a menina falecido, vítima de coqueluche.
Com a separação do casal, Ilse voltou para Göttingen, sua terra natal localizada na região central da Alemanha, com os dois filhos, Jürgen e Fiddi. Após assinatura do divórcio, conforme definido pelo juiz, Jürgen ficou sob a guarda do pai, que não permitiu mais o contato do filho com a mãe.
Em meio a II Guerra Mundial, Hans, pai de Jürgen, casou-se com Erika, com quem teve três filhas: Monika, Irene e Brita. A Família passou por diversas cidades, movimentando-se conforme a guerra avançava pelo país. Jürgen, ainda criança, sofreu com a guerra. Chegou a passar fome e guardou lembranças muito tristes da época. Lembrava com detalhes do dia em que estava na rua e a sirene de aviso de ataque inimigo soou. Ele contava que estava longe de casa e em meio ao desespero, uma família o acolheu no subterrâneo de sua casa, até que o ataque chegasse ao fim. Em outra ocasião, durante um ataque à cidade de Forbach, na região da Floresta Negra, a família se alojou no subterrâneo da casa e, quando saíram à rua, quase todas as casas da vizinhança haviam sido bombardeadas, exceto onde moravam e mais algumas poucas.
Em 1953 Hans foi contratado por uma empresa localizada na Índia, para onde a família se mudou. Lá Jürgen foi matriculado em um internato inglês, onde morou e aprendeu a língua inglesa brilhantemente. Quando ia para casa nos finais de semana, viajava de trem e observava as cidades pela janela. As imagens de pobreza daquele país ficaram gravadas em sua memória para sempre.
Após dois anos a família voltou para a Alemanha, tendo se instalado na cidade onde morava a família de Erika, madrasta de Jürgen.
Em 1955, o pai de Jürgen foi contratado pela Mannesman, empresa alemã especializada em tubos de aço sem costura, que possuía uma filial no Brasil desde 1952. Assim, em 05.05.1955, Jürgen, aos 17 anos, chegou a Belo Horizonte, onde o pai iria trabalhar.
Certo dia, durante visita a um casal alemão também residente em Belo Horizonte, Hans e Erika Mäder conheceram Vera e Georges Broemmé, também vindos da Alemanha. O casal Broemmé então convidou o casal Mäder e os filhos para conhecerem a fazenda que possuíam no interior de Minas Gerais. Tratava-se da fazenda Boa Esperança, localizada em Carmo da Mata.
O casal Broemmé que se conheceu em Dresden, na Alemanha, e se casaram em 1939, eram proprietários de uma fábrica de essências. Eduardo Broemmé, pai de Georges Broemmé, ambos engenheiros químicos, implantou a primeira fábrica de essências da família, chamada Gebrueder Broemmé, em Berlim. O brilhante progresso fez com que em 1939 já possuíssem 24 filiais espalhadas pelo mundo, inclusive no Brasil. Durante a II Guerra Mundial, as maiores unidades que estavam na Alemanha e Inglaterra foram bombardeadas e o casal se mudou para os Estados Unidos. Como o representante do Brasil devia 1.500,00 contos de reis aos fornecedores, Georges Broemmé resolveu vir ao Brasil cobrar a dívida e seguir para a Argentina, onde pretendia refazer os negócios. Entretanto, Vera contava que quando o navio chegou ao Rio de Janeiro ela já dizia à Georges que o Brasil era “nossa casa”. Georges pensou primeiramente em implantar uma indústria para fabricação de essências em Petrópolis, mas o médico de Vera afirmou que o clima úmido da região não seria adequado para a saúde dela. Em 1942 foram apresentados para Juscelino Kubitschek e Israel Pinheiro, então Prefeito de Belo Horizonte e Secretário da Agricultura de Minas Gerias respectivamente, que auxiliaram o casal na escolha de uma região em Minas Gerias para se instalarem. Naquele mesmo ano o casal adquiriu, de vários proprietários, terras que vieram a formar a fazenda Boa Esperança, onde foi fundada a fábrica de essências Georges Broemmé S/A.
Na páscoa de 1956, durante visita da família Mäder a Fazenda Boa Esperança, Vera convidou Jürgen para passar as férias no local, que aceitou muito entusiasmado. Durante as férias, Jürgen contou toda sua trajetória para Vera, inclusive do seu relacionamento conturbado com a madrasta e com o pai, que o separou da mãe biológica definitivamente.
O casal Broemmé, que não possuía filhos, ofereceu que Jürgen ficasse com eles. O pai de Jürgen permitiu desde que Vera matriculasse o jovem no Ginásio Pinheiro Campos, em Oliveira, para aprender melhor a língua portuguesa. Jürgen foi brilhante nos estudos, tendo sido premiado com medalhas por suas redações. O fato também era comprovado pela pronúncia sempre perfeita das palavras, conjugação e concordância verbal impecáveis.
Em 1962, Hans estava prestes a voltar para a Alemanha, então o casal Broemmé adotou Jürgen que passou a se chamar Jürgen Mäder Broemmé von der Launitz. O pai biológico voltou para a Alemanha com sua segunda esposa e as três filhas. Pai e filho nunca mais se viram.
Vera tinha velhos amigos na Alemanha e com a ajuda do proprietário da indústria alemã de cosméticos Schwarzkopf, conseguiu localizar a mãe biológica de Jürgen. Logo após a descoberta, Vera presenteou Jürgen com uma passagem para a Alemanha, para que ele reencontrasse a mãe.
Em 1964, depois de mais de 20 anos de separação, mãe e filho se reencontraram durante a páscoa. Jürgen descobriu que sua mãe casou-se após a separação de seu pai biológico e teve Meinhard (Billy). Seu segundo marido foi assassinado acidentalmente no último dia da II Guerra Mundial. Viúva, com um filho pequeno e ainda com o filho do primeiro casamento, Ilse casou-se pela terceira vez e teve sua última filha, Gisela. Nesta oportunidade Jürgen pode rever toda a família materna.
Ainda na Alemanha, mais precisamente em Frankfurt, pouco antes de voltar ao Brasil, Jürgen conheceu Marita Helga Fitzek, com quem se casou em 31.01.1965 e teve dois filhos: Christina e Thomas.
Em 30.08.1985 casou-se com Marilene Castro, com quem teve dois filhos: Ellen e Christof.
Após o falecimento de Georges Broemmé em 1972, Vera passou a administrar a indústria juntamente com Jürgen. Em 1996, Vera faleceu e Jürgen assumiu a empresa completamente.
Sempre muito dedicado, organizado e honesto, Jürgen trabalhou até o seu falecimento, totalizando 56 anos na empresa, fazendo-se merecedor da herança deixada pelo casal Broemmé.
Dono de um coração imensamente solidário, sempre participou de projetos beneficentes e contribuiu com instituições de caridade ao longo de toda vida. Participou do Rotary Club desde sua implantação em Carmo da Mata. Foi presidente em 1999/2000 e empenhou-se firmemente em projetos de grande sucesso como a implementação da Cooperativa das Costureiras e também projeto para aquisição da piscina da APAE. Estava sempre presente e trabalhava nos eventos beneficentes do clube, só se ausentando das reuniões semanais em casos extremos.
Tinha uma paixão enorme por canários de raça e dedicou-se ao criadouro Carmense por aproximadamente 45 anos. Participou de vários campeonatos mineiros, brasileiros e sul-americanos, tendo sido premiado diversas vezes.
Aos domingos gostava do café da manhã a moda alemã, com a mesa bem farta. Acordava bem cedo, ia à padaria e aprontava tudo sozinho antes que os filhos e esposa acordassem. Nunca gostou de ficar na cama até tarde, quando alguém acordava depois das 11hs, o beijo de “bom dia” já vinha acompanhado do “você perdeu a melhor parte do dia”.
Sempre muito ativo, comprava frutas e verduras toda semana. Sabia as preferências de cada um em casa e adorava agradar a todos. Depois do trabalho gostava de passar no Churrasquinho do Toninho ou no Açaí ou comia um “queijinho” em casa. Era cruzeirense e adorava assistir aos jogos tomando cerveja com os amigos.
Gostava de música clássica, ópera e (como um bom mineiro de coração) de sertanejo. Adorava dançar. Gostava também de assistir noticiário e era fã do seriado Two and Half Men.
Foi um homem de sucesso que não abriu mão da simplicidade. Sempre tratou todos com igualdade e respeito. Foi um exemplo de dedicação à família e ao trabalho, não tendo medido esforços para isso.
Jürgen faleceu em 27.12.2012, durante viagem de férias à Bahia com os filhos do primeiro casamento, devido a uma hemorragia no estômago. Deixou esposa, quatro filhos, três netas, uma história inigualável e muita saudade.
Ellen Broemmé
06.01.2013

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