quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Marketing e Mídia

Reginaldo Rodrigues


O mercado exige: seja profissional

O cotidiano impõe-nos situações que leva-nos a refletir sobre nós e principalmente em relação ao nosso perfil e comportamento no trabalho, bem como  na forma como buscamos nosso espaço no concorrido mercado profissional. Eu saia de uma agência bancária e enquanto olhava absorto o extrato que acabara de tirar, em uma movimentada esquina da cidade, fui abordado por uma senhora com um cachorrinho da raça Yorkshire. Ele pediu que eu segurasse o cãozinho, que estava na coleira, enquanto ela comprasse certo medicamento na farmácia que ficava em frente.
O cachorro não podia entrar no estabelecimento, ela não saia de lá de jeito nenhum e eu fiquei preso na esquina segurando o bichinho. Naquele momento só restava-me observar o movimento e o comportamento das pessoas naquela hora do dia. Foi então que fui abordado por um pedinte que dizia precisar de uma ajuda para comprar almoço. “Essa é velha”, pensei, mas mesmo assim o espírito jornalista se sobressaiu e resolvi aproveitar a oportunidade para pesquisar. Disse a ele que daria dois reais desde que me falasse tudo o que eu queria saber. Descobri coisas fantásticas sobre como ser profissional.
Ele me falou que arrecadava cerca de quarenta reais por dia e que se sustentava com aquele dinheiro. Mencionou várias histórias interessantes sobre a forma de atuação desses “profissionais”. “Um drogado filho de “bacana” que conheço, chega tirar mais de 100 “paus” por dia. Disse pra mim que é bem melhor viver na rua do que em casa, e olha que ele tem de tudo em casa hein.” Ele citou também vários outros casos e todos os exemplos bem sucedidos na “Arte de pedir”.
Depois que dei a ele o dinheiro prometido, fui refletir a respeito. Lembrei que muitas mulheres usam suas crianças pequenas, às vezes até de colo para tirar dinheiro dos outros, são muitos os casos nas ruas das cidades maiores. Lembrei que certa vez ofereci auxílio, para levar a um hospital ou centro de saúde, a um senhor que estava com uma ferida na perna pedindo ajuda em dinheiro e ele não quis. É estranho, mas ele usava o machucado para “faturar”. Tem também os tais flanelinhas que você é obrigado a dar dinheiro para que seu carro não seja danificado. Tem os que usam a receita médica, a desculpa de que moram em outra cidade e precisam voltar para casa e por aí vai...
Você pode até pensar que o título desse artigo está em desacordo com o conteúdo, mas garanto que está enganado. Os exemplos citados são de pessoas bem sucedidas, conseguem ganhar dinheiro fazendo aquilo que se propõem a fazer. Não quero aqui entrar no mérito de que vivem nas ruas, que alguns são maltrapilhos e que isso é sub-humano.  Acredite, alguns o faz por opção, preferem assim. Não são poucos os que ganham igual ou até mais do que a maioria dos brasileiros trabalhadores.
São profissionais, muito mais do que várias pessoas que estão no mercado convencional. São dedicados, motivados e têm estratégias e argumentos convincentes para atingirem seus objetivos. Nesse mercado onde, infelizmente, ninguém quer saber de nada, onde falta seriedade e comprometimento, não tenho dúvida que esses pedintes teriam êxito total.
A senhora saiu da farmácia, mais ou menos vinte minutos depois da entrada, agradeceu, pegou de volta aquela bola de pelos e foi embora. Além da lembrança desse pedido inusitado, vigiar um Yourkshire para a dona fazer compras, ficaram as histórias daquele “profissional” das ruas. Lembrei também de uma reportagem que vi a algum tempo, de um desses “profissionais”, que durante o dia passava-se por deficiente e rastejava pelo chão até os veículos enquanto estavam parados no semáforo, para conseguir dinheiro. Na reportagem da Tv aparecia, ele, ao final do expediente, levantando-se do chão e caminhando tranquilamente conferindo a arrecadação do dia.
Reginaldo Rodrigues

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